Vocês sabiam que o Steve Jobs foi contra o iPhone?

As equipes de design e engenharia da Apple apresentaram a ideia de evoluir o iPod para um telefone celular, mas ele odiou. Chegou a dizer que era a ideia mais ridícula que tinha ouvido.

Ele era contra por alguns motivos. O primeiro porque acreditava que o iPod era um produto final que não precisaria de mais funcionalidades. Mexer com isso poderia canibalizar o mercado lucrativo do iPod.

Ele também não confiava nas operadoras de celular e achava que por isso a Apple não conseguiria garantir a qualidade de seus produtos. Já pensou alguém puto destruir um iPhone porque o celular ficou sem sinal?

A grande genialidade de Jobs era justamente não agir como um advogado querendo apenas defender suas teses.

Os engenheiros mostraram evidências de que era possível fazer um produto de qualidade enquanto o povo de marketing mostrou que haveria demanda para o produto.

E o mais importante: as equipes mostraram para Jobs que a Apple não se tornaria numa empresa de celulares e telecom. Pelo contrário, o iPhone seria um pequeno computador que também faria ligações. Esse era um dos grandes receios dele.

Agindo como um cientista, que modifica suas crenças quando aparecem novas evidências, Jobs topou o desafio.

O resultado vocês já conhecem.

Na época, as duas principais marcas de celulares eram sem dúvida Nokia e BlackBerry.

Onde estão? O que aconteceu?

Aconteceu que seus executivos fecharam os olhos para as novas evidências de um produto totalmente diferente entrando no mercado. Não pensaram como cientistas.

Em 2014, durante o doutorado, eu visitei a Aalto University, na Finlândia. Conversei com alguns pro-reitores e líderes de pesquisa.

Todos eram próximos do time de P&D da Nokia. Eles contaram que quando o iPhone foi lançado, fizeram algumas pesquisas sobre o produto. A Nokia tinha fama de um produto de alta qualidade, e os engenheiros da empresa acharam que o iPhone era mais frágil e utilizavam componentes mais porcarias. “Não competem com a gente”, foi o pensamento.

Onde este pensamento estava errado?

Em olhar para apenas uma dimensão do produto: a engenharia. Eles não conseguiram identificar que a proposta de design e experiência que a Apple estava trazendo iria mudar a forma como as utilizariam o celular e criaria um novo ecossistema de apps.

E teve alguém que se atentou essas novas evidências?

Sim. Os executivos do Google.

Ao ver o lançamento do iPhone, eles pensaram imediatamente: “vamos precisar repensar todo o nosso produto”. Nesta matéria tem detalhes sobre isso.

Tá, e o que a gente aprende com tudo isso?

Que é preciso abandonar nossas convicções para nos adaptar e sobreviver. Não podemos simplesmente ignorar as novas evidências que aparecem. Podemos até questioná-las, mas para isso precisamos pensar como cientistas.