Há algumas semanas uma pergunta me deixa inquieto: qual será o impacto da IA na criatividade humana?

Já existem vários sistemas de IA que criam imagens lindas, algumas sendo usadas de forma comercial. Não sei se vocês sabiam, mas em junho a Cosmopolitan publicou a primeira capa de revista criada por uma IA.

Capa da revista Cosmopolitam com um astronauta criado por uma inteligência Artificial

Mais recentemente, uma obra criada com o auxílio de uma IA ganhou um concurso de Artes no estado de Colorado. Alguns artistas e críticos ficaram irados, dizendo que arte não é só apertar alguns botões.

Mas será que cocriar com a IA é tão simples?

Eu tinha uma opinião similar a dos críticos, até conseguir acesso ao Dall-e 2 e  MidJourney, os dois principais modelos de IA que criam imagens a partir de uma descrição em texto.

Fiz vários testes, mas só consegui gerar imagens que estavam longe de serem uma obra de arte.

Isso acontece porque não tive tempo nem a habilidade necessária para refinar e aperfeiçoar a descrição da imagem que eu quero. E isso é algo importante, porque a IA não sabe o que pode e nem o que deve gerar.

Ela só obedece a instruções específicas.

Os modelos são treinados com uma quantidade absurda de pares de imagens e suas descrições. Então quando pedimos algo, o que ela faz é combinar padrões aprendidos em imagens anteriores para criar algo novo.

Se o usuário pedir uma coisa simples, assim será o resultado.

E eu não estou dizendo que a IA é criativa, apenas que ela pode ser uma ferramenta para a criatividade humana. Tinta, óleo e tela também são ferramentas, mas não é todo mundo que produz uma grande obra. O mesmo acontece com esses modelos de IA.

O autor da obra premiada tem um argumento parecido. Ele diz que precisou mais de 900 interações para chegar no resultado final, uma dedicação de 80hs.

É um processo de construção. A cada interação lapidamos a imagem, pedindo para adicionar uma coisa aqui, alterar uma coisa ali.

Viu?! Não é só um botão.

Existe um processo autoral e dificilmente alguém usando a mesma IA chegará em um resultado idêntico ao que ganhou o prêmio.

A criatividade não está na máquina, mas no artista que faz os pedidos de acordo com a sua intenção. A IA é como um pincel mágico.

O mais excitante é que estamos entrando em uma fase inédita de coautoria humano-IA.

Os desdobramentos de tudo isso, ainda vamos ter que acompanhar. Muita gente vai criar um monte de coisa, e talvez a maioria será lixo.

O que será considerado arte?!

Vai depender de cada um.