Você já deve ter se perguntado o porquê alguém acredita em algo que é claramente uma mentira.
A culpa de tudo isso está no nosso cérebro.
Nós tendemos a acreditar nas coisas que lemos e ouvimos logo na primeira vez. Faz sentido que seja assim, porque a maior parte das informações as quais somos expostos no dia a dia são, de fato, verdadeiras.
As mentiras se aproveitam desses mesmos mecanismos mentais para nos persuadir e convencer. E nós somos tão vulneráveis que um estudo mostrou que apenas uma única exposição a uma manchete falsa já aumenta significativamente a probabilidade de as pessoas acreditarem que a informação seja verdadeira.
Caso ela seja dita repetidamente, tendemos acreditar ainda mais. Isso tem até um nome: o efeito da verdade ilusória. Nós acreditamos mais e mais conforme a informação se torna familiar para nós.
Se a mensagem tiver conteúdos que eliciem emoções e estejam conectados com valores morais das pessoas, o efeito é ainda maior. Sem falar que o viés de confirmação fará de tudo para que ela mantenha suas crenças intactas.
O lance é que os políticos encontraram neste mecanismo uma estratégia para manipular grupos de pessoas. E eles conseguiram isso graças às redes sociais.
Existe um processo. Eles demonizam a mídia, o que faz com que as pessoas não confiem mais na imprensa. A fonte primária de informação de muitos acaba virando influenciadores radicalizados e grupos de WhatsApp.
E, como vimos, basta que eles apresentem uma informação para que esse grupo de pessoas acreditem como se fosse verdade. Por isso estamos vendo tantas cenas tristes e lamentáveis nos últimos dias.
O problema é que sair deste loop não é uma tarefa fácil. Diversos estudos mostram que uma desinformação continua fazendo efeito mesmo depois que a pessoa aprendeu que aquilo é falso.
Uma meta-análise com 32 estudos investigou que corrigir uma desinformação reduz o efeito, mas não o elimina por completo. E outra pesquisa em neurociência mostrou que traços das mentiras continuam existindo no cérebro junto com a informação que a desmente.
Aprender a verdade não apaga a mentira.
Combater as mentiras depois que elas entram no cérebro da pessoa é difícil. Uma estratégia é fazer com que as pessoas questionarem a informação antes de absorvê-las como verdadeiras, mas para isso precisaremos de um esforço educacional e de letramento digital.
Claro que tem muito mais coisa para estudar e escrever sobre esse fenômeno tão complexo a partir de diferentes áreas do conhecimento, mas o post já dá um cheiro.
Vejam como o problema é enroscado!
E, se quiser aprender mais sobre os fundamentos da cognição humana, indico meu curso de Ciência Cognitiva. 🙂