Elon Musk vive dizendo que a humanidade irá colapsar porque estamos tendo menos filhos. Mas o que a ciência e os números dizem sobre isso?

Eu não sou demógrafo, mas trabalho com pesquisas sobre estudos do futuro e recentemente cai neste assunto. Achei importante escrever sobre isso para ajudar a sociedade a não cair na simplificação feita pelo bilionário.

Primeiro, precisamos entender que para uma população se manter constante, a taxa de fecundidade – ou seja, a quantidade filhos que uma mulher tem ao longo da sua vida – deveria ser de 2,1, assumindo que não haja mudanças significativas na imigração e que a expectativa de vida continue a mesma.

Hoje, a taxa de fecundidade global está 2,4, mas vem caindo. De 2020 para 2021, houve um declínio de 0.41% na taxa global.

Gráfico mostrando a queda na taxa de fecundidade desde a década de 60.

É importante entender que existe uma variação considerável em diferentes regiões do mundo. Na Índia, a taxa de fecundidade está em 2,18; no Brasil, em apenas 1,72. Na década de 60, a mesma taxa na população brasileira era de 6,06, o que demonstra um declínio nas últimas décadas.

Esses dados podem parecerem assustadores, mas precisamos entender o cenário como um todo.

A estimativa da ONU é que a população global chegue em 10.4 bilhões até 2100. Hoje somos 7.9 bilhões.

Mesmo nas projeções mais pessimistas, a população chegaria a 8.7 bilhões em 2010. Quase um bilhão de pessoas a mais do que hoje.

Tudo indica que o pico da população deve acontecer na metade deste século. Depois a tendência é estabilizar e começar um declínio.

Se a taxa de fecundidade chegar a 1,84, que é a estimativa da ONU para 2100, a população então deve cair de 10.4 bilhões em 2100 para 1.97 bilhão em 2500.

De acordo com os cientistas, isso é um declínio, mas está longe de ser uma extinção.

Tudo isso são apenas projeções com base na taxa de fecundidade e não levam em consideração outros fatores importantes. Políticas de incentivo para que as famílias tenham mais filhos, como já observamos em alguns países asiáticos, podem alterar este roteiro.

Também não sabemos qual será a organização social e econômica até 2100. Pode ser que mudanças no arranjo das estruturas sociais estimulem – ou retardem – o crescimento populacional.

No entanto, é meio consenso entre cientistas e demógrafos que a extinção pela queda na taxa de fecundidade, como defende Elon Musk, seja algo, de fato, improvável.

Até porque a gente tem possíveis desafios maiores pelo caminho: mudanças climáticas, crises econômicas, possíveis guerras nucleares e pandemias.

Aproveito para indicar meu curso “Ciência Cognitiva 101”, um curso completo que explica os principais mecanismos de funcionamento da mente humana: percepção, memória, linguagem, criatividade, tomada de decisão e muito mais.

Uma imagem de Diogo Cortiz ao lado do termo escrito Ciência Cognitiva