Qual a diferença entre vieses e heurísticas?

A heurística pode ser entendida como uma estratégia que ignora parte da informação para tomar decisões mais rápidas e simples, reduzindo a carga cognitiva. E muitas vezes nem estamos conscientes que estas regras estão em ação.

Diferentes autores propõem uma coleção diversa de heurísticas. No entanto, neste post eu vou destacar duas principais, propostas por Kahneman e Tversty:

– Heurística de Disponibilidade

– Heurística de Representatividade.

A Heurística da Disponibilidade está presente quando achamos que algo (alguém, algum evento etc.) é mais comum só porque é mais fácil de resgatá-lo da memória. É uma estratégia mental que se baseia em exemplos imediatos que vêm à mente.

O exemplo clássico de Kahneman e Tversky foi pedir para as pessoas dizem se achavam mais comum uma palavra começar com R ou ter R na terceira posição, isso no idioma inglês. A 2a opção é a correta, mas 1a era a mais escolhida por ser mais fácil de lembrar.  Afinal, é mais fácil lembrar de palavras que começam com a letra R do que aquelas que tenham a letra no meio.

Outro exemplo é destacado por Lichtenstein e colaboradores. Eles notaram que nos EUA as pessoas julgam o assassinato como a causa de morte mais provável do que o suicídio. Isso acontece porque os assassinatos são mais noticiados e comentados, mas, na verdade, o suicídio é uma causa de morte mais provável no país.

E a heurística de representatividade?

Este é o mecanismo que leva uma pessoa a determinar que algo pertence a uma categoria por parecer mais típico ou representativo. E isso pode levar ao efeito dos estereótipos.

Tversky e Kanheman apresentam o seguinte exemplo:

“Linda tem 31 anos, é solteira, tem discurso fluente e convincente e é muito brilhante. Formou-se em filosofia. Como estudante, ela se mostrou profundamente preocupada com questões como discriminação e justiça social e participou de movimentos anti armas nucleares”

Em seguida perguntavam aos participantes do experimento: Linda é caixa de banco ou uma caixa de banco ativa no movimento feminista?

A maioria dos participantes responde que Lisa era caixa de banco feminista. Se você respondeu igual, usou a heurística de representatividade e caiu na falácia da conjunção.

A Falácia da Conjunção é quando julgamos como mais provável a ocorrência de dois eventos em conjunto do que cada um separado. E esse é um erro. Veja só. Todas as caixas feministas pertencem a uma classe maior que é a de caixa. Sendo assim, é mais provável que ela seja apenas uma caixa de banco do que uma caixa de banco feminista. Mas daí entrou o estereótipo, né?!

Por fim, tem quem use os termos heurística e viés de forma intercambiável. Trago uma citação do Kahneman: “Este artigo se preocupou com vieses cognitivos que se originam da confiança em heurísticas de julgamento.”

Neste sentido, parece que a heurística é o processo, enquanto o viés é a consequência.

Se você chegou até aqui e deseja aprofundar no assunto, no meu curso Ciência Cognitiva 101 tem um módulo de Julgamento e Tomada de Decisão que explico tudo isso em detalhes – e com um monte de exemplo.

Saca só que conteúdo incrível!

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