Resenha do livro Nós somos a cidade.
A sinopse do livro já bastou para despertar o desejo da leitura. Como assim, o protagonista da série é a corporificação da cidade de NY em um menino de rua que precisa de ajuda de seus distritos – também corporificamos em personagens?
Por sorte, tive acesso à obra de forma antecipada por ser parceiro da Companhia das Letras, dona do selo SUMA, responsável pela publicação no Brasil. E que livro incrível. Talvez no início você tenha dificuldade na leitura, mas isso acontece porque a escritora não oferece de antemão explicações sobre o universo da história. Ela prefere nos colocar imersos na sua ficção para que descubramos por nós mesmos, e juntos com os personagens, tudo o que está acontecendo em uma realidade que aparecer existir múltiplos universos.
O livro narra o nascimento de Nova Iorque. Isso mesmo. Com uma pegada de fantasia, a autora nos mostra que as cidades nascem como qualquer outro organismo. Só que no caso de Nova Iorque, um ataque conduzido por uma entidade desconhecida, coloca todo o processo em risco. É neste momento que cinco avatares, cada um representado um distrito, são despertados para cumprir defender a cidade da qual fazem parte. Todos são Nova Iorque.
O ritmo da escrita e a construção dos personagens são bem cadenciadas. Em pouco mais de 400 páginas, a autora prende a nossa atenção ao alternar o ponto de vista da narrativa para apresentar cada um dos personagens: Nova Iorque (avatar primário), Manny (Manhattan), Bronca (Bronx), Brooklyn (Brooklyn), Padmini (Queens) e Aislyn (Staten Island).
Uma estratégia de estilo que adorei foi a mudança na voz do narrador que acontece algumas vezes. Na maior parte, o livro está em terceira pessoa, mas toda vez que Nova Iorque (a cidade, o avatar primário) entra em cena, o narrador passa para primeira pessoa. Essa jogada cria uma atmosfera narrativa em que os distritos são parte de Nova Iorque e que todos juntos são a cidade.
Outro ponto que merecem destaque é a discussão sobre o preconceito estrutural e a nova ascensão de movimentos de extrema-direita. Tudo isso está no livro. As vezes o assunto aparece em um toque sutil; em outras, de forma explicita em cada palavra escrita.
Um livro para quem ama a cidade e a entende como um organismo vivo e mágico. A autora instiga a reflexão sobre como cada distrito, cada bairro, cada cantinho, tem sua personalidade construída a partir da interação de gerações e mais gerações de pessoas, que exaltam a sua cultura e seus valores – carregados de paixões, vivências, mas muitas vezes preconceito, ódio e ganância.
Abaixo há um vídeo que gravei com mais detalhes da resenha do livro Nós somos a cidade. E leia aqui sobre o livro Klara e o Sol.