Coloque uma rodela de laranja em um copo e adicione bastante gelo. Junte o Gin, o Campari e o Vermute tinto. Com uma colher bailarina, misture agitando o líquido de cima para baixo.
Essa é uma clássica receita de Negroni. E você consegue segui-la porque a sua memória de trabalho está funcionando bem.
Na ciência cognitiva dividimos a memória em vários tipos, como memória sensorial, memória de longo prazo e outras. A memória de trabalho é o seu espaço de trabalho mental, onde você consegue armazenar informações por um curto período enquanto pode manipulá-las. Uma lista de ingredientes ou alguns números enquanto você faz uma conta, por exemplo.
Só que tem um detalhe. A memória de trabalho tem capacidade limitada. Você não consegue armazenar muitos itens simultaneamente – nem por tempo ilimitado. Sabe quando você precisa repetindo um número para não o esquecer? Essa é uma estratégia para manter a informação disponível.
Existe um limite conhecido da memória de trabalho?
Em 1956, Miller apresentou o que ficou conhecido como o Número Mágico 7 – mais ou menos 2. Ele argumentou que temos a capacidade de armazenar entre 5 e 9 itens por vez. Esses itens pode ser um dígito, uma letra ou padrões mais complexos, como uma palavra.
Daí surgem algumas técnicas que podem melhorar o nosso desempenho.
Uma delas é a estratégia de “chunking“. Se eu pedir para você ler a palavra “TWAFBIIBMCIA” para reescrevê-la após alguns segundos, talvez tenha dificuldade ao tentar decorar cada uma das letras, afinal são 16 unidades.
Uma estratégia é criar “chunks”, agrupamentos que podem fazer sentido. Por exemplo, “TWA”, “FBI”, “IBM” e “CIA”. Neste caso, você precisa armazenar apenas 4 unidades – e não mais 16.
Dei exemplo com letras, mas funciona com números também. É uma estratégia utilizada em competições de memória.
Apesar da proposta de Miller ter influenciado muitos trabalhos, evidências mais recentes sugerem que talvez seja uma proposta muito otimista. Alguns experimentos sugerem que a nossa capacidade pode ser ainda mais limitada, só que temos a possibilidade de melhorá-la com treinos.
E isso pode ser aplicado em outras áreas?
Sim, total. O grupo de pesquisa em Design do Google revisitou recentemente a teoria para investigar quantos elementos retornar em uma lista numa interface por voz. Descobriram que o mais indicador é falar para o usuário apenas 3 opções, por exemplo.
Existe outras estratégias que buscam mesclar modalidades para melhorar o desempenho da memória. Uma que vale a pena citar, por ser eficiente e bem interessante, é o Método Loci, também conhecida como Palácio da Memória.
Esta é uma técnica mnemônica que utiliza visualizações de espaços familiares para melhorar as lembranças. Vou dar um exemplo. Você precisa ir até o supermercado, mas não tem nenhum papel ou caneta para fazer uma lista. Para diminuir a chance de esquecer algum item, você pode utilizar o Palácio de Memória. Para cada item, você associa com algum espaço da sua casa. Quando chegar no mercado, é só refazer esse percurso. É uma técnica utilizada por muitos campões em competições de memorização.
Gostou e quer saber mais?
O curso “Ciência Cognitiva 101″ tem tudo sobre os diferentes tipos de memória. E cobre os outros principais fundamentos da cognição: percepção, atenção, memória, linguagem, tomada de decisão, criatividade e muito mais. Agora com um módulo extra de IA e Redes Neurais Artificiais.