Don Norman, o pai da área de UX, é um cientista cognitivo. Formou-se em engenharia e fez o doutorado em psicologia. Seus trabalhos explicitam a importância de entedermos a cognição na área de design. Os designers sabem disso. Falam muito em modelos mentais, percepção do usuário e etc. No entanto, as pesquisas em Design e Ciência Cognitiva (que envolve neurociência, linguística, psicologia, etc) evoluem muitas vezes de forma independente, mesmo que uma possa se beneficiar da outra. Precisamos cruzar esse abismo.

Vou dar um exemplo. A memória de trabalho é um fenômeno bastante estudado. Existe uma pesquisa seminal do Miller chamado “O Número Mágico 7, mais ou menos 2”, que argumenta que temos a capacidade de armazenar temporariamente de 5 a 9 itens. Experimentos mostraram que a teoria fazia sentido no laboratório, o que influenciou o universo do design. Alguns guias se baseiam na obra de Miller ao propor reduzir a quantidade de itens em tela para não sobrecarregar a memória de trabalho do usuário.

Mas o trabalho de Miller continua valido no universo da tecnologia? O numero ideal de itens na tela é 7? E no universos das interfaces conversacionais? Se você perguntar para a Alexa quais os melhores restaurantes de SP, ela deverá retornar uma lista com 7 nomes?

Eu sempre comento nas minhas aulas e vídeos que experimentos são desenvolvidos em laboratórios, em um ambiente controlado e com atividades bem delineadas. São trabalhos valiosos, desenvolvem evidências dentro do contexto, mas isso não quer dizer que seja aplicado ao mundão real. O número mágico de Miller parece fazer sentido quando a pessoa está no laboratório lidando com alguma tarefa específica, por exemplo, ao manipular uma lista com nome de países. Mas será que o fenômeno se repete durante uma conversa entre duas pessoas?

A resposta parece ser não. Surge então a teoria da “Regra do Três”, que alguns designers já aplicam em seus trabalhos de interação em telas e em sistemas conversacionais. E essa proposta encontra fundamentos até na sociolinguística. Gail Jefferson estudou diálogos e notou que as pessoas seguem uma regra de três itens. A equipe de Design do Google aplica essa visão no Google Assistant. O Assistente de voz retorna uma lista de três itens e oferece a opção de “mais” caso o usuário queira saber mais.

Os designers do Google argumentam que está na hora de abandonar a teoria de Miller do número Sete. Então quer dizer que a “Regra de Três” resolve todos os problemas? Não sabemos. Por isso precisamos de mais pesquisa conjunta entre as áreas de Ciência Cognitive e Design. Uma ajuda a avançar a outra! 🙂