Dá para cravar os impactos da IA na economia e no mercado de trabalho?
Acho difícil, por muitos motivos. Nas minhas aulas e palestras, sempre trago um panorama que não olha apenas para a IA, mas para a história econômica e da inovação tecnológica.
Existe a ideia no senso comum de que o aumento de produtividade sempre produzirá salários mais altos e uma sociedade mais igualitária. Então, se a IA aumentar a produtividade, teríamos muitos mais benefícios do que problemas, correto?
Sim, mas não é isso que a história econômica nos conta.
Dados compilados pelo “Economic Policy Institute” mostram que, entre 1980 e 2022, a produtividade aumentou 64,7% puxada por uma forte automação, enquanto os salários subiram apenas 14,8% no mesmo período. Ou seja, uma concentração ainda maior.
Outra ideia no senso comum que simplifica as coisas é a de que uma nova tecnologia, embora possa destruir postos de trabalhos, ela sempre cria novas posições – em quantidades ainda maiores.
De fato, isso acontece, mas nem sempre na mesma velocidade, nem no mesmo período, nem na mesma magnitude. E é isso que pode fazer com que a desigualdade cresça com a inovação.
Nesta semana, Daron Acemoglu e Simon Johnson foram laureados com o prêmio Nobel de Economia. E o livro mais recente deles, “Poder e Progresso” nos dá pistas interessantes.
Um dos problemas é como definimos a métrica de produtividade. A definição padrão assume a produtividade como a produção média por trabalhador. Neste caso, basta pegar a produção total e dividir pela quantidade de empregados.
Mas para uma empresa avaliar se vale a pena contratar mais funcionários, o que importa é uma outra medida, a produtividade marginal, que mede a contribuição adicional de um novo funcionário no aumento da produção.
Este é um conceito complicado, então cabe um exemplo para facilitar. Imagine uma padaria com apenas um funcionário que produz 10 pães por hora. Se o dono contratar um segundo empregado, e a produção total passar para 18 pães por hora, isso quer dizer que a produtividade marginal do segundo padeiro é de 8 pães.
Uma das hipóteses com o avanço da IA é que a produtividade padrão aumentaria ainda que a produtividade marginal se mantivesse constante ou até diminuísse, o que não é um incentivo para as empresas contratarem mais.
Então, já deu pra sacar que o jogo é mais bruto do que imaginamos. E para complicar, o desenvolvimento da IA não segue um caminho linear.
No começo do ano, o FMI publicou um relatório mostrando que 40% dos postos de trabalhos estão expostos à IA. Uma parte sofrerá o impacto da automação enquanto a outra poderá se beneficiar da IA.
Então, embora ainda não entedemos todas as consequências concretas no mercado de trabalho, já sabemos que é mandatório requalificar a nossa força de trabalho para IA. Essa deveria ser o primeiro passo de qualquer política pública.
Recentemente, eu escrevi um artigo para minha coluna no UOL aprofundando mais sobre o tema. Deixo o link aqui.